BONDADE E MALDADE SÃO RELATIVAS

 

A maldade é relativa. Por exemplo, a hora antes da morte de um querido nos deixa triste, ainda que o corpo do amigo querido seja bom para a esgotada e esfomeada Mãe-Terra.

Dois bilhões de pessoas perecem a cada cem anos. Isso quer dizer: dois bilhões vezes setenta quilos (a média de um indivíduo), ou cento e quarenta milhões de quilos de carne, ou terra transformada, a qual foi tirada da terra, em forma de vegetais e produtos químicos e depois, retornada à terra. Se durante cada cem anos dois bilhões de pessoas desaparecessem da terra por evaporação, ao invés da maneira comum, a terra ficaria cada vez mais deficiente, até que ela esvaecesse da existência, em pouco tempo.

Pela morte de pessoas chegadas a nós, procuramos o mistério da vida, e pela morte aprendemos a nos associar com os outros, pelo nosso amor. A morte é a porta pela qual a alma entra no reino imperecível, no momento que deixa este corpo transitório.

Matar, pela animosidade do egoísmo pessoal é considerado mau. Matar, pela sua pátria é considerado bom e admirável, com direito a condecoração militar. Mentir por mentir e sem motivos, é mau, mas mentir para salvar a vida de alguma pessoa, ou honra de alguém, é considerado bom.

O ato sexual para propagar bons filhos na vida de casados é bom, mas a tentação sexual, sem autocontrole, é ruim e é um destruidor de paz e harmonia interna.

Raiva egoísta é mau/ruim, mas a indignação com razão é tida como sendo bom. A ambição por ouro é ser egoísta e traz a pobreza universal porque tira o dinheiro das pessoas necessitadas e pobres e que não pensam.

A ambição, porém, para uma constante meditação ou contato com Deus, é bom. Ter medo de ações más ou a influência de maus hábitos é bom. Daí se vê que o bom pode ser mau e que o mau pode ser bom. Não existe um “standard” absoluto.

Quando crianças nascem numa nação materialista ou com pessoas más, é natural que elas fiquem com pensamentos maus e materiais. Mesmo que uma criança nasça num ambiente de maldade, pela causa de influências más ou pela sua existência pré-natal, ela deve salvar os seus gostos e os seus bons pensamentos o mais cedo possível. A maldade é o resultado dos maus hábitos pré-natais e também das ações más nesta presente vida, iniciadas pelas companhias más, dentro e fora, ou pela pouca e pobre discriminação.

As influências pré-natais e as más companhias são as piores influências, porque elas criam os maus hábitos e escravizam a independência da vontade e da razão.

Os hábitos são máquinas psicológicas, que ajudam automaticamente a perfazer as ações necessárias facilmente e que precisam ser feitas sempre repetidas. Se muitas pessoas más estão juntas, elas depressa, consciente ou inconscientemente, influenciam a mente e a vontade do novo entrante. Assim também, em meio a pessoas boas, uma pessoa recentemente chegada também fica automaticamente com vontade de ser boa.

Ações boas ou más repetidas produzem bons ou maus hábitos que compelem a pessoa a ser boa ou má. Num grupo de pessoas cuja maioria é má, terá influência má sobre uma criança incontrolada que viver com elas.

Como a maldade promete grande felicidade e só traz, ao invés disso misérias, a maioria das pessoas, no princípio, é atraída pelo fulgor falso da moeda da maldade dos prazeres mundanos.

As pessoas não amam intencionalmente a maldade. Elas são más porque não conhecem o maior charme dos bons hábitos, e não podem comparar e selecionar o melhor. A maioria das pessoas fica má devido à influência de opiniões, e a maior parte delas é inconscientemente levada à maldade.

As pessoas são más devido à procedência do mal ao seu redor, no começo da vida e, também, há pessoas que são más porque não conhecem outra coisa. As pessoas são más porque pensam erradamente que, pela maldade, ficarão felizes facilmente.

As pessoas amam a maldade porque, falsamente, elas aumentam o pavor e a tortura que supõem que as envolverão se tiverem autocontrole. São más, as pessoas, porque são compelidas a serem assim, por influências de instintos maus ou erradas decisões.

Retire os instintos instigadores de raiva, medo, tentação, egoísmo e ambição que foram colocados no homem, pelas forças invisíveis cósmicas, e o mundo estará completamente livre da maldade.

Se estes traços de maldades mentais não existissem, a razão ou a vontade humana não poderia ser influenciada a ser má. As pessoas ficam influenciadas facilmente a serem más pela predominância dos instintos maus da tenra idade.

Pergunta: Existe uma derradeira ou definitiva maldade ou bondade? 

Resposta: Nós já vimos que a bondade pode ser maldade e a maldade, bondade, mas Deus não pode ser outra coisa, que bondade. A contínua dor corporal é sempre um mal para o homem. Acontece que há muitos momentos de derradeira bondade ou maldade, em conexão com o homem, porque a bondade só pode ser um bem para o homem, e a ignorância, perpetuamente má.

Odeie o pecado, o máximo que puder, com toda a força mental e física, mas ame os pecadores, para que assim os possa curar por esta única panaceia (o amor).

Quando encontrar pessoas que mentem, mexericam, que criam desarmonias e fazem malvadezas ao invés de bondade, perdoe-os porque eles estão influenciados pela intoxicação do mal.

Pouco importa quão inteligente eles sejam, as suas vontades e a razão estão escravizadas somente para fazer o mal. Grandes criminosos conscientemente fazem o mal, mesmo sabendo que as suas consequências são desastrosas, mas assim mesmo, eles nada podem fazer. Assim como disse Thomaz a Kempis, uma vez, quando ele viu um homem ser condenado à morte: “Pela graça de Deus, aí vou eu”.

 

 

POR QUE SÃO POUCOS OS BONS?

 

Ser bom é mais encantador e benéfico do que ser mau. Ainda que muitas pessoas sejam más, assim mesmo, algumas pessoas boas pelas suas qualidades e merecimentos, contrabalançam as influências da maldade. Mas, a luz de uma pessoa boa dá mais luminosidade que todas as estrelas possam nos dar na terra. O sol impele e empurra a escuridão de espaço milhões de vezes maiores do que ele. Um homem bom, seja ele ou não um pregador, somente pela sua presença no mundo põe em movimento vibrações invisíveis, que contrabalançam os vastos volumes de vibrações de milhares de pessoas más.

Portanto, nós devemos dizer que existe mais bondade no Cosmos, por causa da maior influência de pessoas boas, que se conjugam com a alta bondade permanente de Deus. 

A cósmica força da maldade, com todos os agentes das maldades psicológicas de medo, raiva, etc, existem somente relativamente e são impermanentes.

Na realidade, existe mais bondade do que maldade no mundo. Portanto, uma infinidade de pessoas é boa e é errado dizer que o maior número delas é mau.

Como a maldade não guarda as suas promessas e sorrateiramente administra o veneno da tristeza, com uma camada de açúcar de promessas ou felicidades temporárias para aqueles que a seguem, os seus seguidores, mais tarde ou mais cedo ficam desiludidos por ela e se voltam para o bem ou Deus, o único que pode oferecer a eterna, a verdadeira e a sempre nova bem-aventurança.

 

 

(Por Paramahansa Yogananda. Self-Realization Magazine, Junho 1934)